sábado, 23 de outubro de 2010

A passagem

Tem um dia em que se constata que passou.
O tempo, a paixão, a dor, o incômodo, o prazer.
Algumas vezes não nos damos conta e aquilo se desvaneceu.
Qual o motivo? Será o efeito do remédio, a desilusão, a idade, a percepção de ter esquecido, a distância...
A impermanência, a conclusão de quão fugaz são todas as questões quando contrastadas com a morte ou a ausência do amor...
Pode resultar num vazio, em muitos momentos um alívio, talvez a cicatriz recente ainda incomode, mas ao que não nos acostumamos?
Seguimos os incontáveis e sagrados dias no caminho, sem tanto brilho, ou com menos combustível que em outras vezes, mas enquanto estivermos neste planeta a solução é prosseguir.
As lembranças quanto mais agradáveis mais cruéis se ligadas a perda ou ausência.
As múltiplas formas de lidar com a passagem e a busca eterna por outra oportunidade ou a fuga , a única certeza é o movimento contínuo e o inexplicável como corda retendo o corpo preso na rocha evitando a queda.
De toda passagem obter algum sorriso e uma tênue lembrança de que fez o melhor que pôde.
Paciência e persistência são os atributos para o perfeito corte da espada que é abundante em vida.
Fazer da dor um motivo de bem-aventurança e esperança que dias melhores sempre virão.
Envelhecer é uma estrada de mão única e tentativa de sermos menos irrelevantes na humanidade.
Para o cosmos toda vaidade é tolice.

Amor meu, se morro e tu não morres,
amor meu, se morres e não morro,
não demos a dor mais território:
não há extensão como a que vivemos.

Pablo Neruda

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